segunda-feira, 9 de maio de 2011

Heróica Cachoeira, Monumento Nacional


História
Era início do século XVI, colonos e corsários europeus, ávidos por descobrir as riquezas do novo mundo nas terras do Brasil, seguindo as rotas dos “pretos da terra” chegaram às grandes águas do Paraguassú, excelentes para navegação e penetração no território, e cobiçaram os portos naturais que o margeavam, a abundância de vida nas águas, nos mangues e nos vales, a fertilidade do solo e a abundância de minérios (a primeira mina de cobre da América do Sul foi descoberta na região do Iguape, em Cachoeira).


Infelizmente, foi este o cenário que ví em 2006
(alguns da população ainda o confundem com lixeira...).
Foto: Ana Góis.
Portugal se apressou a enviar fidalgos que lhe garantissem a posse das riquezas do lugar. Desde 1559, Mem de Sá e seus homens travaram muitas batalhas contra os tupinambás para fundar o povoado colonial da Cachoeira. Mas somente em 1654, João Rodrigues Adorno se fixou nas terras banhadas pelos riachos Caquende e Pitanga, que tinham sido doadas a seu pai, o Capitão-Mor Gaspar Rodrigues Adorno, como prêmio por ter conseguido expulsar os “pretos da terra” do local.

O projeto agrícola da cana-de-açúcar vingou, o fruto nasceu vigoroso nas terras fertilizadas pelo grande rio, e já em 1674, em torno da pequena capela dedicada atualmente à Nossa Senhora da Ajuda, nascia a “Freguesia de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira”, desmembrada de Santiago do Iguape. Tão rápido foi o crescimento da freguesia, que em 29 de janeiro de 1698 era elevada à categoria de “Vila de N. Sra. do Rosário do Porto de Cachoeira”.

Localizada no ultimo limite navegável do Rio Paraguassú, durante muitos anos Cachoeira forneceu aos viajantes que seguiam para a Estrada Real do Gado, as Minas Gerais, a Chapada Diamantina, o vale do São Francisco e Goiás, todos os suprimentos de que precisavam, além de hospedagem para descanso, igrejas para conforto espiritual e porto para escoamento dos bens que exploravam e produziam.

Tão rica se tornou a Vila de Cachoeira que, por ordem da Coroa Portuguesa, a partir de 1756, passou a custear a reconstrução de Lisboa, que havia sido destruída por um terrível terremoto no ano anterior. No final século XVII, cinco grandes engenhos cercavam a vila e, no final do século XVIII, seu porto era considerado o mais importante da Bahia. D. Pedro I, D. Pedro II e D. Tereza Cristina, a Princesa Isabel e o Conde D’Eu, estiveram na próspera Cachoeira.


"Vapor de Cachoeira". Foto: Acervo IPHAN.
Em 4 de outubro de 1819 partiu de Salvador o primeiro “Vapor” em direção a vila. A rota deveria atrair a atenção de investidores internacionais para o potencial portuário e produtivo do Recôncavo. A estratégia deu certo e levou para a região grandes produtores, alemães, ingleses e suiços de fumo e charutos, rentosa mania internacional da época. Eles contribuíram para a expansão do protestantismo no perfil religioso da cidade.




Foto: Ana Góis, 2006.
Foto: Ana Góis, 2006.
Em 20 de abril de 1826, o Imperador D. Pedro I, assinou a Lei que elevava Cachoeira à categoria de “Nobre Cidade de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira”, exigindo a construção do Cais do Porto e de uma ponte sobre o Rio Paraguaçu ligando Cachoeira a São Félix (solicitação antiga dos homens de negócios e do povo da cidade), além da implantação de um colégio público no “Seminário de Belém” e de uma Santa Casa de Misericórdia.


E no decorrer do século XIX, quando as lutas pela independência e pela abolição da escravatura causavam grande reboliço por todo o Brasil, Cachoeira e os demais ricos centros urbanos do Recôncavo, dado o prestígio e importância com que figuravam no cenário nacional, foram estrategicamente tomadas por tropas fiéis à coroa portuguesa e revolucionários, que lutaram por mais de um ano até a expulsão dos portugueses em 25 de junho de 1823, quase um ano após a Independência do Brasil, que já havia sido proclamada por D. Pedro II desde 7 de setembro de 1822.


Foto: Ana Góis, 2006.
A primeira Casa da Moeda do Brasil foi implantada em Cachoeira, em 1822, sendo a primeira moeda cunhada no Brasil no dia 09 de setembro de 1823. Por duas vezes, Cachoeira foi eleita capital da Província da Bahia. A primeira em 1822, no início das lutas pela independência do Brasil e a segunda em 1837, no período regencial, durante a Revolta da Sabinada.

Após a independência, no dia 13 de março de 1837, Cachoeira foi elevada por D. Pedro II à categoria de “Heróica Cidade”.

No final do século XIX, teve inaugurada sua ferrovia (implantação aprovada em 1860) e a Ponte D. Pedro II (de 1885), que o imperador conseguiu trazer para o Brasil, embora tenha sido construída pelos ingleses para ser instalada no Rio Nilo.

A prosperidade seguiria durante a primeira metade do século XX e a decadência viria com a Segunda Guerra Mundial e as tensões sócio-políticas entre o Brasil e os países de origem dos grandes produtores estrangeiros de fumo no Recôncavo, que fez com que muitas famílias de imigrantes europeus partissem em busca de outros campos de investimento.

Os mais antigos monumentos do centro histórico da cidade, tombado como Monumento Nacional em 1971, revelam a opulência barroca, proveniente da cultura da cana, e o ecletismo, resultante da indústria do fumo. Do mesmo modo as dezenas de terreiros de candomblé, os remanescentes de quilombos, os quitutes, o tempero, a capoeira, o samba de roda, revelam a forte presença do africano na conquista dessas farturas.

Personalidades:

Duas grandes heroínas nasceram na Cachoeira do século XIX: Maria Quitéria de Jesus, nascida no antigo povoado de São José das Itapororocas. Mulher destemida, que durante as guerras pela independência comandou um grupo de mulheres que derrotou soldados portugueses que tentavam desembarcar uma canhoneira; e Ana Justina Ferreira Nery (1814-1880), que seguiu como enfermeira voluntária para a Guerra do Paraguai (1865-1870), após perder para ela o marido, e ver partirem para as frentes de batalha também os filhos e outros parentes próximos. Por sua honrosa atuação em campo, o Imperador D. Pedro II a condecorou com as medalhas “Humanitária de 2a classe” e de “Campanha” e concedeu-lhe pensão anual. Ana Néri também recebeu os títulos de “Mãe dos Brasileiros” e “Patrona das Enfermeiras”.

Em 1847, nasceu na Fazenda Curralinho, pertencente à Província de Cachoeira, o grande poeta abolicionista, um dos maiores vultos da história do Brasil, Antônio Frederico de Castro Alves, que morreu precocemente aos 24 anos, vítima de tuberculose.

O próspero século XIX também viu nascer em Cachoeira o exímio músico Manuel Tranquilino Bastos (1850-1935), que desde menino perseguiu sua paixão pela música e criou, com amigos, vários grupos musicais ao longo dos anos, dentre eles o “Recreio Cachoeirano”, que animava festas na cidade, a “Euterpe Cachoeirana”, que atuava principalmente em festas religiosas, e a filarmônica “Sociedade Cultural e Orféica Lyra Ceciliana”, nascida em 13 de maio de 1870, sob a devoção de Santa Cecília, a padroeira dos músicos que na região eram (e ainda são) humildes artesãos, agricultores, alfaiates, carpinteiros, sapateiros, etc. Tranquilino compôs várias peças sacras e fúnebres, além de populares frevos e marchinhas de carnaval. Poeta e abolicionista que era, inspirou-se nos versos de Castro Alves para compor uma versão musical para “Navio negreiro”.

Tranquilino foi admirado e respeitado pela Corte Portuguesa e pela sociedade alemã que freqüentava o recôncavo durante o fausto de fumo. Conta-se que em certa ocasião, presente como convidado especial numa grande festa promovida por D. Pedro II e D. Teresa Cristina, tentou tirar uma dama para uma dança. Esta o rejeitou, julgando-o pela aparência morena numa cena testemunhada pos D. Teresa. A imperatriz indignada com a falta cometida diante de tão ilustre personalidade e grande músico, o tirou para uma dança especial, após o que, pelo resto da noite, várias damas passaram a disputar sua companhia.

Mais tarde, no dia em que a Lyra Ceciliana completava 18 anos, foi assinada a Lei Áurea pela Princesa Isabel, notícia que chegou a Cachoeira através do telegrafo. Naquela noite, Tranquilino Bastos saiu à frente da Lyra Ceciliana pelas ruas da cidade, festejando o fim da escravidão. Muito feliz, ele compôs “13 de maio, um hino à liberdade”.


Em 1922, comemorando o centenário da Independência do Brasil, que os cachoeiranos ajudaram a conquistar através de heróicas batalhas, compôs a música do “Hino da Cachoeira”, sendo a letra escrita pelo poeta Sabino de Campos. O hino foi executado por quatro filarmônicas, por ele regidas, em 25 de junho, data em que as tropas portuguesas foram finalmente vencidas na cidade, em 1823. Este grande músico compôs 700 peças sinfônicas e 20 óperas editadas na Europa, principalmente na Alemanha, onde há uma rua com seu nome em Amburgo.

Também nasceram em Cachoeira: Augusto Teixeira de Freitas, considerado o maior jurisconsul das Américas; Ernesto Simões Filho – advogado, jornalista, autor de vários livros, fundador do Jornal “A Tarde” e ministro por várias vezes; e o grande artista André Pinto Rebouças.

No século XIX, o município de Cachoeira era um dos mais extensos do Brasil, tendo dado origem, ao longo dos anos, aos municípios de: Feira de Santana (1823), Santa Terezinha (antiga Tapera – 1849), Castro Alves (antiga Curralinho – 1880), São Gonçalo dos Campos (1884), São Félix (1889), Santo Estevão (1921), Conceição de Feira (1926), Jandaíra e Itapicuru (1727).

Cachoeira deve às grandes águas todo o fausto dos tempos de outrora. O Farol da Pedra da Baleia, construído em 1912 para orientar os navegadores das inúmeras embarcações de grande e pequeno porte que as cortavam, em busca das riquezas do Recôncavo Baiano, é um marco deste grande fausto, sócio-econômico e cultural. Vários naufrágios ocorreram na região antes da construção do Farol.

A grande pedra em forma de baleia sempre foi muito respeitada pelos africanos trazidos para o Recôncavo e seus descendentes, antes mesmo de ser construído sobre ela o farol, sendo considerada sagrada morada de deuses das águas, deuses que se aborrecem quando a ganância dos homens maltrata as generosas águas e toda a natureza que as envolve e que é nutrida por elas.


Foto: Acervo IPAC
 Assim, as grandes enchentes que arrasavam as vilas nos tempos de outrora, seu comércio, seus portos, seus armazéns e toda a produção ali guardada, poderiam ser respostas dos deuses às más ações dos homens. E muitas foram as enchentes até o homens usarem de engenhosidade para construir barragens. Primeiro a Bananeira, projetada por Américo Simas, de pequeno porte e eficácia limitada, depois a Pedra do Cavalo, que dominou totalmente as águas do grande rio e o tornou mais raso, mais salobro e menos propício a muitas espécies de águas doces que antes ali se reproduziam.

A histórica cidade de Cachoeira, assim como as outras cidades e vilas do Recôncavo Baiano, são como um grande museu, de um tempo onde a descoberta de abundância de belezas e recursos naturais conduziu a um encontro de culturas europeias, ameríndias e africanas, que ali prosperaram, preservando traços de suas origens que quase já não podem ser encontrados em outras partes do mundo.

Essa convivência entre as diferentes culturas e entre o homem e a natureza local, ao longo dos anos, não foi feita só de bons momentos. Memórias de lutas, mortes, escravidão, preconceito, destruição, também fazem parte de sua história. Mas as experiências parecem ter despertado nesse pacato povo cachoeirano a noção de que a convivência pacífica, e a preservação dos valores que mais lhes aproximam de suas raízes, rendem-lhes mais frutos de esperança na continuidade da cultura que construíram ali, que as aspirações por modismos, grandes fortunas e ostentações.


Assim é que gentes de todas as partes do mundo vão buscar em Cachoeira, e no Recôncavo, como que um álbum de retratos, um lugar lembranças da própria história e de um passado que parecia esquecido, mas que se mantém ali, intacto, em ruas, cheiros, sabores, movimentos, danças, músicas, construções. Alguns fazem rápidas visitas, mas se vão impressionados com as possibilidades de aprendizado que essa incomparável cultura baiana proporciona, outros precisam voltar sempre e outros mais não conseguem ir embora e fincam suas raízes neste cantinho de paz.

Principais pontos turísticos:

  1. Cais do Rio Paraguaçu – importante ponto de escoamento de açúcar e fumo para o mundo, permite uma bela visão do Paraguassú e da cidade de São Félix e o acesso a belas praças de Cachoeira;
  1. Capela de Nossa Senhora da Ajuda – a Freguesia de Cachoeira se desenvolveu em torno da antiga capela, construída a partir de 1595, a mando do Capitão Álvaro Celestino Adorno. Em 1673, seu bisneto, Paulo Dias Adorno, mandou ampliar o templo com pedra e cal. Em 1818, foi construído o salão anexo com o altar de S. Benedito e ainda no século XIX, os músicos de Cachoeira organizaram a irmandade de N. S. da Ajuda, que passou a cuidar do templo, tombado pelo IPHAN em 1939.
Foto: Acervo IPAC
Foto: Acervo IPAC

Foto: Ana Góis, 2003.

  1. Conjunto das Ordens I e III de Nossa Senhora do Carmo (Praça da Aclamação).
A construção do templo barroco da Ordem III do Carmo em Cachoeira, começou em 1691, em estilo Barroco, num terreno doado pelo Capitão João Rodrigues Adorno e sua esposa, D. Ursula de Azevedo, em 1688. O templo pertence à própria Ordem III de Nossa Senhora do Carmo e promove todos os anos a “Procissão do Senhor Morto”.

O Convento e o templo da Ordem I começaram a ser erguidos em 1715, em estilo Rococó, num terreno doado em 1702. Durante o conflituoso século XIX a construção foi tomada diversas vezes pelos poderes públicos e abrigou, sucessivamente, a Câmara, a Casa da Moeda, o Quartel Central, uma pensão e um hospital. O conjunto da Ordem Primeira pertence à Ordem Carmelita da Bahia.

Em 1981, uma reforma adaptou o conjunto (que é interligado por dentro) para servir de museu, pousada e centro de convenções. Conjunto tombado pelo IPHAN em 1938.


Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.

Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2008.
Foto: Ana Góis, 2008.


Foto: Ana Góis, 2011.

4. Casa da Câmara e Cadeia (Praça da Aclamação) – construída a partir da elevação de Cachoeira à categoria de vila, em 1698, foi palco de grandes acontecimentos históricos. Nela, D. Pedro II foi aclamado Regente e Defensor do Brasil, em 1822. Nas lutas pela independência da Bahia foi sede da Junta Governativa e, depois, durante o Governo Provisório, entre 1837 e 1838, foi sede do Governo da Bahia por ocasião do movimento revolucionário da Sabinada. Foi tombada pelo IPHAN em 1939 e pertence à Prefeitura Municipal da Cacheira.

Foto: Acervo IPAC
Foto: Ana Góis, 2011.

  1. Capela e Hospital S. João de Deus – conjunto barroco com renovações neo-clássicas, fundado em 1729, pelo Frei Antônio Machado de N. S. de Belém, elevado à categoria de Santa Casa de Misericórdia, em 1729, por resolução imperial, e tombado pelo IPHAN em 1943.
  1. Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Monte Formoso / Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos / Igreja do Rosarinho – situada à Rua da Conceição do Monte, foi construída em 1746.
Foto: Ana Góis, 2006.

  1. Cemitério dos Africanos / Cemitério dos Pretos / Cemitério dos Nagôs – o famoso cemitério foi construído a pedido da Irmandade de N. S. do Sagrado Coração de Maria do Monte Formoso para sepultar membros de origem africana. Cachoeira possui pelo menos cinco cemitérios históricos dedicados a habitantes de origens diversas: africana, alemã, inglesa, portuguesa.
8. Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário – obra concluída em 1793, em estilo barroco, com fachada coberta com pedras de lioz portuguesas. Possui um singular conjunto de azulejos com quatro metros de altura e uma pia batismal em lioz, decorada com golfinhos.


Foto: Ana Góis, 2008.



9. Casa Natal de Ana Néri (Rua Ana Néri, nº 07, próximo à Igreja Matriz) – sobrado construído no final do século XVIII, onde nasceu a heroína cachoeirana da Guerra do Paraguai, no dia 13 de dezembro de 1814. Tombado pelo IPHAN em 1941 e declarado de utilidade pública para fins de desapropriação. Foi incorporado ao Patrimônio do Estado da Bahia em 1952. Nela funcionam, atualmente, um posto de informações turísticas e a biblioteca municipal.


Foto: Ana Góis, 2006.



10. Conjunto da Santa Casa de Misericórdia (Praça Aristides Milton) – construção do século XIX, com templo dedicado a Santa Bárbara, decorado aos gostos barroco e rococó. Os sobrados da Santa Casa foram construídos em 1865.


Foto: Ana Góis, 2006.


11. Chafariz Imperial (Praça Aristides Milton) – foi construído no final do século XVII e remodelado em 1827, ganhando o Brasão Imperial e o tratamento neo-clássico mantido até hoje. Tombado pelo IPHAN em 1939.


Foto: Ana Góis, 2006.



12. Mercado Municipal – construção do século XIX.

13. Estação Ferroviária – construção do século XIX.




Foto: Ana Góis, 2011.

14. Galeria de Damário da Cruz.

15. Cine-Teatro Glória.

16. Casa dos Velhos de Cachoeira – casarão inaugurado em 1861 e tombado pelo IPHAN EM 1943.

17. Casa à Praça Dr. Aristides Milton, nº 23 A – construção do século XIX que ficou marcada por ter sido utilizada como centro de reuniões pelos revolucionários da campanha pela independência da Bahia, em 1822.

18. Casa do Maestro Tranquilino Bastos.

19. Igreja de N. S. da Conceição dos Pobres – fica no largo do Caquende e foi construída no século XIX.

20. Fundação e Museu Hansen-Bahia:


Foto: Ana Góis, 2008.

O artista plástico germânico Karl Heinz Hansen nasceu em 1915, em Hamburgo, Alemanha (país considerado berço da xilogravura). Foi influenciado pelo expressionismo de artistas como o flamengo Frans Marereel e seu tema preferido sempre foi a figura humana.

Ele chegou ao Brasil em 1950, fugindo dos horrores da segunda grande guerra mundial, da qual foi obrigado a participar, por ter sido marinheiro, nos mais terríveis anos da sua vida. Após percorrer outras regiões do Brasil, escolheu a Bahia para viver e produzir largamente suas famosas xilogravuras que com o tempo passou a assinar como “Hansen-Bahia”. Suas obras demonstram seu sentimento crítico quanto ao capitalismo selvagem e as guerras, seu respeito à religiosidade, sua admiração pelo jeito de viver na Bahia.

Em 1958 voltou à Alemanha, onde permaneceu por 4 anos, e suas obras inspiradas na cultura baiana foram altamente valorizadas. Lá lançou álbuns e livros ilutrados revelando a experiência na Bahia. Em 1965 foi para a Etiópia para ensinar xilogravura na Escola Imperial em Addis Abebs e no ano seguinte voltou para a Bahia. Lecionou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia de 1967 até 1973.

Em 1975 mudou-se para São Félix com sua esposa, a artista Ilse Hilma Caroline Hansen, para viver em tranqüilidade os últimos e melhores anos de suas vidas. Através de seu testamento, Hansen doou toda a sua obra artística e a sede de sua fazenda em São Félix, para a manutenção da fundação que criou para incentivar as artes e promover cursos.

Franz Hansen faleceu em 13 de junho de 1978 e até hoje influencia muitos artistas. Em 1981 o Governo do Estado da Bahia passou a manter a fundação com treze mil peças de sua autoria, expostas em sua maioria na sede da fundação, em Cachoeira.

21. Sede da Irmandade da Boa Morte.


Foto: Ana Góis, 2008.

Foto: Ana Góis, 2006.

22. Fundação Maria América da Cruz – criada em 1995.

23. Casa Natal de Teixeira de Freitas (Rua Sete de Setembro, nº 34) – Sobrado onde nasceu o jurista baiano, em 19 de agosto de 1816. Tombada pelo IPHAN em 1941.

Distritos

  • Distrito de Santo Antônio do Iguape.
1. Igreja e Convento de Santo Antonio do Paraguaçu – As ruínas do convento dos franciscanos, localizadas na Vila de São Francisco de Paraguaçu (Distrito de Iguape - Cachoeira), chamam a atenção pela grandiosidade e dão uma idéia da riqueza das ordens religiosas nos tempos coloniais. O Convento foi construído no século XVII, pela Ordem dos Franciscanos no Brasil, para ser um noviciato. A tranqüilidade, o isolamento e as riquezas naturais daquelas terras pareciam aos religiosos o ambiente ideal para a dedicação dos irmãos ao conhecimento do Senhor. Os primeiros noviços chegaram em 1654.

Neste convento foi iniciado o Frei Antonio de Santa Maria Jaboatão, que fez parte da “Academia dos Renascidos” e é o autor do mais importante livro sobre a história dos franciscanos no Brasil, “O novo orbe seráfico brasílico ou crônica dos frades menores da província do Brasil”.

Além do prédio do convento e do templo, com frontispício em estilo maneirista, foi construído um aqueduto no local. Ao redor do antigo Convento os irmãos da Ordem mantinham uma horta e um pomar, criando, também, alguns animais. Assim produziam quase todos os alimentos de que precisavam para viver.

Obras sociais também eram mantidas através do pequeno “Hospital de Nossa Senhora de Belém”, construído fora dos muros do convento graças a esmolas doadas pelos fiéis. Seu idealizador, o leigo Frei Bernardo da Conceição, exerceu ali os cargos de diretor, enfermeiro e cirurgião. Após seu falecimento, em 5 de setembro de 1727, não existindo médico ou cirurgião, nem religioso para substituí-lo, o hospital teve que ser transferido para Cachoeira e entregue aos religiosos de São João de Deus, recebendo o título de Hospital São João de Deus.

No início do século XX, os franciscanos deixaram o seminário, doado à Arquidiocese da Bahia. Em 19 de janeiro de 1915, mediante portaria do Sr. Arcebispo D. Jerônimo Thomé da Silva, foi nomeada uma comissão para proceder o levantamento do estado físico do convento e iniciar reparos na igreja, sacristia e varandas. Para tanto, a comissão tinha permissão para demolir o que restava do convento, vender o material que pudessem dele retirar e parte do convento. Mesmo tendo feito isto, as obras pararam e 1916 e a comissão alegou falta de verbas para continuar, pelo que a propriedade foi vendida para José Mariano Filho, que de lá retirou móveis, azulejos, imagens, o lavabo em lioz da sacristia, retábulos, pisos, forros e peças de jacarandá, transportando-os para sua residência no Rio de Janeiro, o “Solar Monjope” (já demolido).

O Convento foi tombado pelo IPHAN em 25 de setembro de 1941. Um lavabo de mármore português do Convento foi individualmente tombado pelo IPHAN em 25 de abril de 1974, dado e seu valor artístico e histórico. Mas o abandono e descaso com o monumento o levaram às ruínas.

  • Distrito de N. S. de Belém de Cachoeira.
1. Igreja e Seminário de Nossa Senhora de Belém de Cachoeira – conjunto localizado no distrito de Belém de Cachoeira. O seminário foi fundado perto de uma aldeia indígena, pelo Padre Alexandre de Gusmão, em 1686. A bela estrutura apresenta torre recoberta por louça de Macau e pinturas orientais na sacristia, atribuídas ao Padre Charles de Beleville. Tombado pelo IPHAN em 1938. pertence à Mitra Arquidiocesana da Bahia.

  • Distrito de Tibiri
1. Igreja Matriz de Santo Antonio do Distrito de Tibiri – século XVII.
Sedes de Antigos Engenhos:

  1. Engenho Velho: Ruínas da casa Grande e Capela de N. S. da Pena – conjunto do século XVII, fica ás margens do Rio Paraguaçu e pertence a espólio José Pedreira. Tombado pelo IPHAN em 1943.
  1. Casa grande do Engenho Vitória – construída em 1812.
  1. Casa Grande do Engenho Embiara / Morgado Real do Embiara – construção do século XIX ás margens do Riacho Iguape, pertencente a Adir Alves Leite. Tombada pelo IPHAN EM 1493.
Datas Comemorativas:

  1. Feriado de 13 de março – dia em que a Vila de N. S. do Rosário do Porto de Cachoeira foi elevada à categoria de Cidade de Cachoeira, com a denominação de Heróica.
  1. Feriado de 25 de junho – homenagem aos heróis da independência.
  1. Festas Juninas.
  1. Festa de N. Sra da Boa Morte – de 13 à 17 de agosto, organizada pela Irmandade da Boa Morte.
A Irmandade da Boa Morte nasceu no século XIX, na cidade do Salvador, Igreja da Barroquinha. A humilde freguesia reunia homens e mulheres de cor e promovia concorridas procissões, inicialmente, em veneração ao Senhor dos Martírios. Mas, as crioulas afortunadas que acompanhavam as festas organizadas pelos homens, encontraram na devoção à Nossa Senhora da Assunção – ou “Boa Morte”, como diziam –, cuja imagem também estava presente no templo, um meio de demonstrar a luta que travavam em busca de liberdade: da escravidão para todas as pessoas de cor; do machismo para as mulheres (pelo que escolheram uma mulher para devoção). Elas buscavam usar os melhores trajes e carregar as melhores jóias, em procissão pelas ruas, mostrando assim a força que tinham para lutar por seus ideais. Após o ato católico, reuniam-se num terreiro que ficava próximo ao templo pra cultuar os orixás.

Durante muito tempo, mesmo desprezando a atuação das irmandades de pessoas de cor, a sociedade e a Igreja católica toleraram-nas. Mas os negros conseguiam se organizar cada vez mais em torno de suas origens africanas, como os de nações gêge, nagô ou kêtu, tornando-se grande ameaça à ordem político-econômica estabelecida. Foi assim que a perseguição a todos os tipos de organizações que promoviam gerou a dispersão de muitos negros para o Recôncavo Baiano, em busca dos jovens filhos da colônia, que influenciados pela Revolução Francesa, lutavam por ideais de liberdade e independência.

Assim, as irmãs da Boa Morte que foram viver em diferentes vilas do Recôncavo Baiano, nunca perderam o vínculo e mantiveram suas tradições, reunindo-se todos os anos, durante o mês de agosto na festa que é hoje conhecida mundialmente. Para ingressarem na irmandade as mulheres devem ser negras com mais de 40 anos. As interessadas passam por um estágio probatório de três anos, como “irmãs de bolsa”. Sendo aprovadas, segue-se uma ordem de cargos: tesoureira, escrivã, provedora maior e juíza conselheira.

A festa é planejada por um Conselho eleito anualmente, começa numa sexta-feira, com uma procissão que segue da Igreja D’Ajuda até a Capela de Nossa Senhora da Boa Morte, onde é realizada uma missa que lembra a morte de Nossa Senhora. Todas as irmãs se vestem de branco, que é a cor de luto no Candomblé, não usam jóias ou qualquer adereço, somente as guias dos orixás. Após a missa acontece uma ceia, onde só entra vinho e comida branca: pães, mingau e peixe. No sábado à noite, com trajes escuros e carregando velas, realizam a procissão de Assunção de Nossa Senhora. Seguem-se os festejos profanos com samba de roda e refeições típicas gratuitas, oferecidas ao povo e a todos os visitantes, sendo os gêneros usados na preparação da comida doados por comerciantes e admiradores da irmandade.

  1. Festa da Ajuda – acontece no mês de novembro com: Terno do silêncio (meia noite); Lavagem de domingo à tarde (oito dias depois); Lavagem da lenha (segunda), onde raparigas saíam com rolinhos de lenha na cabeça; Lavagem da água (terça), onde as raparigas saíam com moringazinhas cheias de água na cabeça; Lavagem de careta (quinta). A festa tem personagens mascarados, ternos, caretas, cabeçorras, mandus, charanga, bumba, burrinha, caipira e macaco, fanfarras, sanfonas e pandeiros.
  1. Festa de N. S. do Monte Formoso – acontece na primeira quinzena de Dezembro.
Cultura Popular

  1. Os sambas de roda seguiram das senzalas dos tempos de engenho para as ruas do fausto do fumo, ganhando ao longo dos anos características bem peculiares misturando elementos de origens africanas, indígenas e européias. Homens puxam a cantoria tocando viola, cavaquinho, pandeiro e atabaque, atraindo as mulheres que respondem cantando e dançando em movimentos chamados “requebrados” que valorizam os quadriz e os ombros, com suas saias de chita colorida, camisas de renda, torços e colares. Da cultura do fumo o samba de roda ganhou a batidinha de tábuas de enrolar charuto, executada pelas mulheres.

Foto: Ana Góis, 2006.


Foto: Ana Góis, 2006.

  1. A criatividade para recolher recursos necessários na preparação da Festa de Santa Cruz fez nascer a “Esmola Cantada”, organizada por negros e mestiços da zona rural. Com seus chapéus enfeitados saíam de casa em casa cantando o samba, com letras que rogavam e agradeciam o benefício divino para as famílias visitadas.
  1. A Capoeira trazida da África foi preservada com seu gingado e seus golpes em forma de dança, regidos pelo som do berimbau e o canto dos negros.
Referência Bibliográfica

Cachoeira, a Cidade mais Negra e Mística da Bahia. A Tarde, Caderno de turismo, p. 6-7, 20/08/00.

O Recôncavo é a parte mais bela e nobre da Bahia. Jornal do Paraguaçu. Ano I, nº 1, 06/1997.

Renovar Cachoeira. Prefeitura Municipal, 2006.

VERGER, Pierre. Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, 15 de Agosto. In: “Notícias da Bahia de 1850”. Ed. Corrupio, 2º edição, 1999.

4 comentários:

  1. Aguardem...o texto ainda está incompleto, faltam informações sobre herança afro, filarmônicas, etc.
    Também há mais fotos.
    Até a próxima atualização!

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  2. olá Ana gostaria de poder entrar em contato com vc sobre o seu trabalho em cachoeira e-mail marciosilva2403@gmail.com

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