quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Ephemerides Cachoeiranas - Aristides A. Milton (resumo)

Revista Trimensal do Instituto Geographico e Historico da Bahia. Anno V, Março de 1898, num. 15, p. 41-79


- O Padre Gabriel Soares, [...] nos informa que - esta cidade teve sua origem num antiquissimo engenho, levantado por um mameluco, chamado Rodrigo Martins, que o construira por conta propria e pela de Luiz de Britto e Almeida, proprietario do engenho da Ponta.

O que me parece averiguado é que - o terreno occupado agora pola Cachoeira fôra primitivamente habitado por indios «tupinambas, que eram homens de estatura media, côr muito baça, muito bem feitos e dispostos, mui alegres de rosto e bem assombrados, tendo todos bons dentes, alvos e miudos, sem lhes nunca apodrecerem. pernas bem feitas, pés pequenos, trazendo o cabello da cabeça sempre aparado, não os consentindo em outra parte do corpo, para o que os arrancavam, quando lh'os nasciam; muito amigos de novidades, e demasiadamente lisongeiros, grandes pescadores, caçadores, e amigos da lavoura».

- A Cachoeira foi elevada a categoria de parochia, ao tempo do arcebispo D. João Franco de Oliveira (1692 a 1700).

- Quando por aqui passara, de viagem para as minas de Jacobina, o 32º governador capitão general do Brazil D. João de Lancastro, servira-se erigir em villa esta prospera freguezia, que o era então, de Nossa Senhora do Rosario do Porto da Cachoeira. E, a 7 de Janeiro de 1698, veio o desenbargador Estevam Feirraz de Campos instalal-a, com todas as solemnidades do estilo. No acto, funccionou de escrivão Manuel Luiz da Costa, que para tanto abalara-se de Bahia, provavelmente por ser pessoa entendida em palavras tebelliôas e pragmaticas reaes. A festa foi pomposa, si bem que se notasse e. falta de discursos, pois a mania. d'est.es não imperava ainda. No entanto, abriu-se immediatamente uma. subscripção popular para factura da cadeia e casa da camara, que fiearam pr*ovisoriamente alojadas num predio de Paschoal Nunes.

Os limites traçados ao novo termo foram estes: desde o o rio Subahuma, da freguezia de S. Domingos da Saubara, correspondendo a esta e á freguezia de Sant'Iago do lguape pelos Mulundús, a buscar o Caequiabo e o engenllo do coronel Pedro Gracia; e d'ahi cortando pela matta que divide os caminhos entre S. Francisco de Sergipe e S. Gonçalo dos Campos da Cachoeira, cortando sempre pelas mattas das Ouriçangas, ao logar' onde mora Francisco de Barros Lobo. E d'ahi cortando a estrada que chamam de Subahuma, até chegar á passagem do Inhambupe. E d'este rio, cortando pela costa, atte internar com o rio Real.

A Cachoeira fica a ONO da cidade da Bahia da qual dista 42 milhas, appoximadamente. A cidade que fica a 14,66 metros acima do nivel do mar, esta situada num valle, cercado de môrros, e acha-se plantada á margem esquerda do rio Paraguassú, nas abas da Serra Timbóra, que ahi segue na direcção NE a SSO.

Ignacio Accìoli (Revista do Instituto Historico e Geographico Brazileiro, vol. XII, p. 143) diz-que os indios camacans estendiam-se pelas vizinhanças do assento da actual cidade da Cachoeira, ou até aos logares occupados pela tribu dos kiriris, cujos descendentes formaram a villa da Pedra branca.

D. João de Lancastro quando emprehendeu a excursão a que atrás me referi, corria o anno de 1695. O governador e Capitão-General chegara trazendo numerosa comittiva da qual faziam parte diversos officiaes, e pessoas praticas para lhes ensinar os caminhos. Vinha também premunido de instrumentos, proprios para a oxploração de salitre, que ia tentar em grande escala. No arraial de Belém, distante d'aqui 6 kilometros mais ou menos, esperava por todos os viajantes o comboìo, que se tinha mandado de antemão preparar. Depois e pequena demora em Belém, D. João partiu com seus companheiros para a fazenda Jacaré, pertencente ao distrito de S. Gonçalo dos Campos, onde existe agora uma estação da estrada de ferro Central da Bahia. Do Jacaré seguiu toda a comitiva para S. José da Itapororocas, e d'ahi dirigiu-se á serra da Jacobina, donde - depois de refeito o comboio - tomou para as minas, que eram chamadas de João Martins. 

A Cachoeira fôra construida nos estaleiros, então existentes na povoação da Barra do Paraguassú.

Em 1836, 4 horas da tarde, desabou sobre esta cidade uma trovoada medonha de que falam os contemporaneos ainda hoje assombrados. Por essa occasião cahiram tres faiscas electricas: uma na egreja da Conceicão do Monte, a segunda na praça da Aclamação, e a terceira em S. Felix, que então era simples arraial. Não houve, felizmente, desgraças pessoaes a lamentar.

Em 1892, alguns cidadãos, alias republicanos, mandaram celebrar na egreja Matriz desta Cidade uma missa de requiem, por alma de D. Pedro de Alcantara, ex-imperador do Brazil.

Em 1839, aportou a esta cidade a primeira barca a vapor, pertencente a uma companhia regular de navegação. Chamava-se Catharina Paraguassú. Vieram n'ella, de passeio, muitas pessoas distinctas, inclusive senhoras, da capital da provincia, hoje Estado. Era agente da companhia ali João Diego Stwrz. O vapor despendera 5 horas na viagem, não obstante as paradas que fizera, para deixar e receber passageiros, desde que entrara no Paraguassú. Brilhante recepção teve o vapor aqui. Fez-lhe continencias, e deu tres salvas de festim lugo após, o destacamento policial, ao mando do cap. Jose Francisco de Meirelles. O juiz de paz Francisco de Salles Ferreira, por suas proprias mãos, queimou varias girandulas de foguetes. Toda a população entregou-se a festas ruidosas, e á noute alguns predios illuminaram.

Dirigiu-se, em 1850 ainda, a camara municipal d'esta cidade ao presidente da provincia, reclamando providencias para impedir a propagação da febre amarella, que estava acommettendo a pepulação surprendida.



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