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Imagem: http://www.estacoesferroviarias.com.br/ba_lbras/antonio.htm |
Silenciosa, e triste e
fria, pequena, pobre e desataviada, assenta sôbre a lomba de uma colina que se
desarticula da serra do Alecrim, a
cidade de Campo Formoso, antiga Freguezia
Velha de Santo Antonio de Jacobina, erecta no afastado ano de 1682.
Parece-me ter sido anteriormente uma aldeia de índios, missionada pêlos
franciscanos.
Paiz ora alpestre, ora
desdobrado em amplos e viridentes convales, regados por copiosas águas perenes,
que descem dos abruptos pendores de montanhas altaneiras, entoando em surdina
módulas tiranas, ou manam de extensos brejaes, a uberdade das suas terras é
fantástica. O café, o algodão, a cana de assucar, os cereaes, as árvores de
fruta, viçam com inaudito luxo de seiva. Madeiras preciosas revestem flancos
umbrosos de colinas e montanhas, em extensões consideraveis. As pastagens
pingues multiplicam-se por toda parte.
Não é menos notavel a
riqueza do subsolo do vasto município, um dos mais dilatados da Bahia. O ouro,
o diamante, o carbonato, o cobre, o cristal de rocha e, por fim, quase todos os
mineraes (p. 31) que a indústria moderna pode aproveitar, nele jazem em
incrível abundancia. Dessa breve resenha isentei acinte o salitre, de que se
poderiam exportar milhões de toneladas; tendo, porém, mais importancia na história
de Campo Formoso, que na sua economia.
A variedade de animaes
é digna de referencia, sendo que até o indesejavel jaguar se encontra ainda nas
inaccessiveis grotas das serras ásperas, e a fauna venatória inscreve-se entre
as mais fartas do sertão.
Um Eden. Mas a
população é escassíssima, e, pois a lavoura e o creatório, - aqui vae um termo
corrente no interior da Bahia, substituindo criação e pecuária, - embora
proporcionalmente vultosos, não se manifestam por uma produção compativel com
as possibilidades magnificas do solo.
Senhora dessa fabulosa
opulencia em ser, a cidade de Campo Formoso, desapercebida no meio do explendor
da sua gleba feraz, retrata exactamente a “Bela adormecida no bosque”, dos
contos de fadas. Quando virá o “Príncipe Encantado”, que hade acordal-a para o
fastígio do destino que merece?...
E, que dizer dos
panoramas evocativos dessas estiradas plagas, dos seus longes que fazem sonhar,
dos seus paineis empolgantes, em que o berilo dos prados sem fim e o cinzento
das montanhas longinquas põem indizivel doçura na alma dos enamorados da
natureza?
Por essas paragens
dadivosas e ridentes celebrados aventureiros do sertão pergavaram, desde o
século I da nossa história. Belchior
Dias Caramurú, o inventor das minas de prata, devassou-as ali, si vera est
fama, com o gentio tresmalhado da bandeira de seu inditoso parente Gabriel Soares de Souza, e o roteiro do
seu peregrinoar pêlos abertos sertões verdes das Jacobinas Velha e Nova legou-o
ao sobrinho, o segundo senhor da Tôrre,
Francisco Dias d’Ávila. Ainda se mostram antigas escavações em galeria, que
das ribas de dois córregos do município parecem se dirigir ao tão falado subterraneo dos Abreus, as quaes, muita
gente assim supõe, assinalam o local das lendárias minas, (p. 32)
Errou por essas paragens
aquele morgado da Tôrre; erraram seus descendentes, que possuiram a quase
totalidade das terras da actual comuna campo formosense. Uma das fazendas ali
fundadas por êles, há muito mais de dois séculos, o Escurial, guarda até hoje o
primitivo nome que a gente audaz e insaciavel do absorvente feudo lhe deitou.
E, dizem-me, até a primitiva casa que ergueram.
Erraram enviados da
corôa portugueza, em busca do salitre descoberto na bacia do rio do mesmo nome,
no ano de 1671, por um Bento Surreal. Até um encristado governador e
capitão-general do Estado do Brazil, o senhor Dom João de Lencastro, acicateado por insistentes ordens do seu rei
e amo, largou os próprios comodos na cidade do Salvador para varar, de ida e
volta, passante de 150 léguas, através de inóspitos geraes, e de florestas
sombrias transpassando rios e córregos, serranias e serrotes fragosos, atraz do
nitro ambicionado por sua majestade para fabricar o camoneano “pú sufureo” que
as suas armadas e os seus exércitos consumiriam. E, ainda a pesquizar minas, no
tempo e por ordem do vice rei Vasco Cesar, trilhou esses desertos o
experimentado sertanista coronel Pedro Barbosa Leal.
Por alturas do terceiro
quartel do século em que o dito enviado de Vasco Cesar por ali andou, nas
mesmas plagas residio, explorando ouro, o lendário Romão Gramacho, cujo nome
corre de bôca em bôca, ligado a quanta jacencia aurífera existe, ou se supõe
existir, no amplíssimo sertão formado pêlos municípios de Morro do Chapéu,
Jacobina e Campo Formoso.
Em comêços do século
XIX, um certo Simão Moreira,
varejando taboleiros e grotas dêsses rincões, procurou as minas de prata na
crença de achar-se nas pégadas de Belchior Dias, do qual talvez fosse parente.
Finalmente, nos nossos
dias, extasiados ante as bellezas inéditas dos seus scenários de lenda, as
curiosidades naturaes, multiplicadas e maravilhosas, que por ahi topou, as
riquezas demarcadas que na província dos mineraes aos seus olhos de sábio se
patentearam, divagou por essas plagas o notavel mineralogista e geólogo
norte-americano, (p. 33) e grande amigo da terra brazileira, John Casper Branner.
Além de crescido número
de sábios menores, de engenheiros, de peritos de minas, que têm perlustrado a
comarca, sondando a possança das suas variadas e inesgotaveis jazidas.
Na bruma hiemal de
friorenta manhã de maio, que sudarizava a cidadezinha num véo cinéreo,
agravando-lhe a natural melancolia, embruscando-lhe os horizontes largos e
ondulados, dirigi-me á matriz local,
votada a Santo Antonio de Lisboa. Pesada construção, cujas paredes lembram
antes muralhas de fortalezas, mas que interiormente não é das peores do sertão,
e traindo na sua fábrica duas épocas bem diferenciadas, a frontaria branca da
igreja destacava-se em deserta praça, de edifícios meticulosamente cerrados, na
manhã merencórea e algente daquele dia de maio.
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Imagem: https://caminhoformoso.wordpress.com/historico-conheca-o-retrato-de-campo-formoso/ |
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A velha matriz e o novo templo de linhas modernas. Imagem: https://caminhoformoso.wordpress.com/historico-conheca-o-retrato-de-campo-formoso/ |
Está-lhe em frente
implantado o cruzeiro, - uso corrente em quase todo o interior do paiz, - ao
que adicionaram, em 1919, como se vê da placa nele afixada, por ocasião de umas
santas missões, os instrumentos da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
No despretencioso frontispício, que olha o poente, acima da porta principal,
abre-se um nicho envidraçado com descorada imagem do orago, em tôrno da qual
corre a seguinte lenda na região.
Quando os avenureiros
portuguezes, por alturas, do século de siscentos, chegaram ás terras que
rodeiam a cidade de Campo Formoso, arrancharam-se em amena posição, onde
resolveram estabelecer o centro irradiador das suas expedições á cata de ouro,
erguendo logo tejupares e abrindo roças. Muitos determinaram-se a não mais
abandonar o sítio, elegendo-o por definitiva morada, tão aprazível que lhes
pareceu.
Então, consoante o
arraigado espirito de religiosidade que ao tempo dominava, trataram
paralelamente de erigir uma ermida, dedicada a Santo Antonio, cujo vulto um
deles curiosamente transportava.
Pronta a igrejinha, e
colocada a imagem sôbre o tôsco altar, (p. 34) ao outro dia, pêla manhã, deram
com a porta aberta. E a imagem havia desaparecido. Chovera. Da capela partiam
pégadas de uma pessoa que se afastava. Rastrearam-nas, crentes de estarem
seguindo a pista do ladrão do bento simulacro. Pois, que se tratava de um furto
foi a hipótese logo por êles admitida.
Dali a umas duas
léguas, exactamente no ponto onde se vê agora implantado o cruzeiro, em frente
á matriz, deram, espantados, com a imagem posta na forquilha de um genipapeiro.
Tomaram-na, com reverencia, e foram repol-a na ermida. Ao dia que se seguiu, pêla
manhã, de novo havia-se sumido a imagem. Desconfiaram imediatamente achar-se o
santo no lugar da véspera. Estava-o, de facto. Pêla segunda vez o reconduziram
á ermida. Terceira fuga. Terceira recondução da imagem. Desta feita derribaram
o pé de genipapeiro. O santo fugiu pêla quarta vez, e foram-no encontrar de pé,
sôbre o tôco da árvore. Compreenderam, então, desejar Santo Antônio que a sua
ermida fôsse ali. E assim o fizeram.
Pêlos tempos adentro,
edificou-se a igreja que ora se vê, e por ser a imagem mui pequena,
colocaram-na em o nicho citado, olhando o ponto onde frondejava o genipapeiro
de sua predileção, substituido já pelo cruzeiro, e pondo outra imagem maior no
altar do presbitério.
Segundo uma variante
desta tradição, o local onde os aventureiros portuguezes se estabeleceram
primeiramente, e de onde o santo fugiu para se engangorrar na forquilha, e se
pôr sobre o tôco do pé de genipapeiro, foi onde está edificada a capela de Nossa Senhora do Burburi, na
Gameleira, um quilómetro ao sul da cidade, pinturescamente ubicada em suave
escosta da serra. Defronte da mencionada capela dizem, está enterrada grande
porção de ouro, desde o tempo em que os bandeirantes por ali andaram, a qual em
vão se tem procurado.
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Imagem: http://ambientalcampoformso.blogspot.com.br/2013/07/o-processo-de-povoamento-e-civilizacao.html |
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Imagem: http://www.panoramio.com/photo/12043165 |
SILVA CAMPOS. João da. Santo Antonio de Campo Formoso. In:
_____. Tradições Bahianas – Separata da
Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia nº 56, 1930. Bahia:
Secção Graphica da Escola de Aprendizes Artífices, 1930, p. 31-35.
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http://www.cidade-brasil.com.br/foto-campo-formoso.html |
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http://falandotudo.com/index.php/rememorando-antigo-cine-santo-antonio-em-campo-formoso/ |
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http://www.esmeraldanoticias.com.br/destaques/mocao-de-congratulacoes-a-nossa-querida-campo-formoso/ |
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